Querer o que Deus quer!

Que morte é, tão grande, viver deixando a Cristo, depois de tê-lo
conhecido, para seguir opiniões e afeições próprias! Não há trabalho igual a
este. E, pelo contrário, que descanso, viver morrendo cada dia, por ir contra o
nosso próprio querer, buscando não as coisas que são nossas, mas as de Cristo.
Tive a graça de ir a Goa e de poder visitar o túmulo de São Francisco Xavier. Naqueles dias, e em Calcutá também, vieram-me à cabeça estas palavras que hoje partilho e que recomendo como matéria de oração. Aproxima-se o tempo de conversão, de oração mais intensa, de jejum e de esmola...a Quaresma! E que mais desejar senão o esquecimento próprio e a plena união à Sua vontade? Não há muito para acrescentar, simplesmente rezar como Jesus fez na cruz "Pai, se queres, afasta de Mim este cálice; contudo, não seja feita a Minha Vontade, mas a Tua". (Lucas 22:42)
O sacerdote a quem Madre Teresa se confessava dizia que a Mother não via a confissão como uma rotina (pois confessava-se semanalmente), mas como um encontro com a misericórdia de Deus...e ficava muitíssimo agradecida pelo facto de os seus pecados e debilidades serem perdoados graças ao amor de Deus. Deixo um exame de consciência para que nos possamos preparar para este encontro durante a Quaresma.
Sem o exame de consciência (não só para a confissão, mas diário) não há progresso na vida cristã. Como posso ser melhor se não atendo ao que fiz de mal no dia-a-dia? Não é só ver os pecados que fiz. Deve ser antes uma oração: rezar a minha vida, o meu dia a dia, diante de Deus. É ver-me à luz de Deus com o meu lado bom (dons, trabalhos, esforço, o bem que fiz e as graças que recebi de Deus) e o meu lado negativo (gestos maus, quedas, faltas de amor, omissões, isto é, o que não fiz e devia ter feito).
I. Face a Deus
"Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e
com todas as tuas forças". (Deuteronómio 6:5)
Que importância tem Deus na minha vida? Procuro-O? Esforço-me por crescer na fé
e ultrapassar as minhas dúvidas? Rezo a Deus? Regularmente? Diariamente?
Procuro evitar as distrações durante a oração, ou faço o possível por não
"estar lá"?
Esforço-me por conhecer sempre cada vez melhor a Jesus Cristo?
Tenho aproveitado o sacramento da confissão para crescer no amor de Deus, tornando-me
melhor? Sempre que caio em pecado mortal ou noutro pecado (cortando assim a
minha relação com Deus), procuro logo que possível confessar-me e voltar para
Deus?
Confesso-me ao menos uma vez por ano?
Aos Domingos e Festas vou à missa? Ou sempre que posso não vou?
Participo na missa inteira ou já aponto para chegar atrasado ou sair a meio?
Procuro estar com atenção e participar na celebração, ou estou distraído?
Comungo habitualmente (ao menos pela Páscoa)?
Como é o meu ser cristão? Escondo-me e tenho vergonha, ou procuro preparar-me
para ajudar os outros na fé e na vida cristã?
II. Face ao próximo
"É este o meu mandamento, que vos ameis uns aos outros, como Eu vos
amei". (João 13:34)
Face aos outros, a minha atitude é em geral de amor ou de desprezo?
Estou zangado ou de relações cortadas com alguém?
Procuro ser simpático e servir os outros, ou estou sempre a mandar neles? Evito
conflitos, ou estou sempre a tecer intrigas e a criticar os outros pelas
costas?
Sou egoísta, ou procuro amar o próximo?
Sou mentiroso, ou invejoso?
Dou alguma atenção especial àquele que precisa (doentes, velhinhos, pobres)?
Como são as minhas relações com os meus colegas, superiores, família
(especialmente pais e filhos)?
Estraguei de propósito alguma coisa dos outros? Roubei alguma coisa?
Respeitei o corpo humano? Fiz mal a alguém batendo ou ferindo? Respeito o meu
sexo? Não tenho relações sexuais fora do casamento? Evito alimentar pensamentos
e desejos impuros? Afasto-me de revistas e filmes pornográficos?
Quando cometo alguma falta aceito a minha responsabilidade, ou desculpo-me
atirando para os outros as culpas daquilo que fiz?
III. Face a mim mesmo
"Sede perfeitos, como é perfeito o vosso Pai do Céu". (Mateus 5:48)
Sou egoísta, orgulhoso, caprichoso e avaro, ou esforço-me por me dedicar aos
outros, sendo simples, simpático e generoso? Sou cuidadoso com o meu
vocabulário, evitando escandalizar e ofender os que estão comigo, ou digo
palavrões e insulto os outros?
Respeito o meu corpo? Olho-o castamente, ou vejo-o como um mero instrumento de
prazer sensual?
Como emprego o meu tempo? Esforço-me por o não desperdiçar? Como estudo ou
trabalho? Com preguiça, ou com consciência de que aquilo que faço é importante
também na minha relação com Deus?
Como com moderação, ou sou guloso e ganancioso? Dedico-me às coisas importantes
da vida, ou sou vaidoso e fútil?
IV. Face ao Mundo
"E Deus vendo toda a sua obra [a criação] considerou-a muito boa".
(Génesis 1:31)
Sou sensível à beleza da criação e esforço-me por encontrar a Deus através
dela? Aprecio as coisas à minha volta ou consumo-as apenas...? A minha passagem
por um lugar bonito caracteriza-se por não o estragar (lixo, barulho, atitudes
que perturbem)?
Respeito a natureza como a casa que Deus me dá, ou, responsavelmente, poluo o
lugar onde vivo? Procuro manter-me informado e preferir os produtos
"amigos do ambiente" ou tanto me faz, desde que não tenha chatices?
Vivo a minha vida numa ganância de enriquecimento (no estudo ou no trabalho) ou
preocupo-me por me situar numa lógica de realização pessoal, de partilha dos
bens e de serviço aos outros? Crio em mim uma atenção pelos menos favorecidos,
pela justa distribuição da riqueza? Que faço para conhecer a doutrina social da
Igreja?