Namoskar!

21-06-2018

            Querida família e amigos,

      Quase dois anos depois, estou de regresso. É muito estranho, pois sempre pensei e quis voltar, mas na minha cabeça seria algo quase irrealizável. Parece que não! Estarei por aqui nos próximos 50 dias...e utilizarei este 'blog' para ir contando os meus dias. Como já devem saber, quinta feira é o dia livre dos voluntários e, portanto, dia em que conto escrever. Suponho que serão posts um pouco extensos pois vou tentar responder às mensagens que me têm mandado. Tanto há quem pergunte pela comida, como quem pergunte pelo trabalho, como pelo sono...!

      Parece que nada mudou. Quando entrei no avião em Amsterdão, veio logo um cheiro familiar! Gostava de saber descrever estes relances que vou sentindo, mas é praticamente impossível. Parece que nunca fui embora e nada mudou...estão aqui os mesmos cheiros, as mesmas cores, as indianas com os seus saris, os pés descalços no meio do aeroporto, a mesma forma de comer...e assim entrei na Índia. Com a lembrança destes cheiros, com a típica alcatifa (que só me faz pensar em ácaros e doenças) que tenta embelezar o chão dos aeroportos indianos e, desta vez, com a INÊS! Não tivemos problemas com o visto - grande conquista! - e encontrámos logo a Patrícia. Infelizmente, já nos separámos e só nos voltaremos a ver daqui a uns dias. Segui sozinha com os meus pensamentos e armada com o terço: Calcutá!

      Se da outra vez preparei muito pouco para esta viagem, então agora foi ainda menos. Algo que quando fiquei sozinha começou a assombrar a minha cabeça! Comecei a pensar nas monções e na possibilidade de não chegar à BMS, pensei na contrariedade de perder as malas (sim, entretanto tinha 5kg a mais de bagagem - OBRIGADA PELO QUE OFERECERAM), olhei para a meteorologia e tremi a pensar que não ia conseguir trabalhar com o calor/humidade.

      Saí do aeroporto e lá veio a onda de calor que me deixou sem respirar durante uns segundos. Fui até ao guichet dos carros pré-pagos (uma fila gigante, eu cheia de malas, um calor terrível...podem imaginar a minha figura), pedi um táxi para a Motherhouse e lá fomos.

      Primeira aventura. O aeroporto fica a 15km da Motherhouse e a viagem costuma durar 30min...ora, como já cá estive, reconheço minimamente os sítios. Estava mesmo muito calor e muito trânsito, por isso sempre que parávamos num semáforo, morríamos os dois (o condutor e eu) de calor. Por esta razão, suponho eu, decidiu sair da rua principal, rua que eu conheço bem, e foi por outros caminhos. Durante os primeiros 15min, tudo bem. A certa altura já íamos em uma hora de viagem...não reconhecia nada à minha volta, comecei a ver cada vez menos gente, o motorista atendeu duas vezes o telefone e ficava a olhar para mim através do retrovisor...bom, estão a ver onde isto vai dar? Entrei em pânico e achei que estava a ser raptada. O que fazer? É preciso explicar que ele não falava inglês (como a maioria dos indianos aqui - apesar de ser língua oficial, maior parte não fala) por isso apontei para o relógio para perceber quanto faltava e ele só respondia: 8km madam, 8km. Rezei um ato de contrição! Pensei...ou saio do carro só com a minha mochila (o resto estava na mala), corro e tento apanhar um novo táxi ou falar com alguém, ou ligo os dados para ver onde estou e mandar a minha localização pelo whatsapp ou confio. Decidi a segunda hipótese. Liguei os dados e....NO SERVICE! De repente o meu telefone deixou de funcionar (ainda me passou pela cabeça este táxi ser de tal maneira planeado para raptos que tirassem a rede lá dentro). Bom, assumi que ia morrer. Comecei a tremer, fiquei com as mãos e pés dormentes, rezei de novo o ato de contrição e peguei no terço...passaram 15 min (sim, tive tempo de acabar de rezar o terço!) e comecei a reconhecer a zona...chegara à Motherhouse! Bem sei que isto parece para lá de estúpido, mas tive mesmo medo, como nunca tinha tido!

      Olhei para a Motherhouse e nem queria acreditar! Dei meia volta e comecei a andar até à BMS. Tudo igual! Reconheci as pessoas na rua, sabia em que momentos tinha de tapar o nariz, sabia os buracos no chão. Incrível! Entrei na BMS, vi logo o meu nome e fui fazer o registo. Continuava a tremer do susto do táxi e a Anu perguntou-me se estava tudo bem porque estava branca! Bom, lá me contou que estava uma vaga de calor, que nos últimos dois dias tinham chegado aos 50º e que ninguém ia trabalhar. Instalei-me no quarto 4. No mesmo quarto, na mesma cama! As minhas roommates são a Megan e a Zoe dos US. Estavam a descansar porque o tempo estava insuportável...mas eu só pensava em ir à Motherhouse. Pousei tudo, troquei de roupa e lá fui!

      Que grande emoção! Entrei, descalcei-me (lembram-se de contar este pormenor há dois anos? Sempre a tirar os sapatos para tudo?!) e beijei o túmulo. Deixei todos os que me lembrei aos pés da madre Teresa (à medida que os dias avançam vou pedindo pelos que me esqueço e acrescento aqueles que me têm pedido por mensagem) e rezei um bocado. Saí, falei com uma sister porque queria saber onde está a sister Ruth. Está doente e só a vejo na missa, mas ainda não falei com ela. Fui ao supermercado e voltei para casa. Conheci um grupo de 15 americanos super simpáticos e fui DORMIR!

      Na quarta estive a orientar a minha vidinha cá. Missa às 6h, claro...desfazer malas, arrumar o quarto, etc etc. Fui falar com a sister Mercy e estou a trabalhar em Shanti Dan - girls -, na mesma e a dar aulas em Shishu Bhavan à tarde.

      Para já é isto. Não há muito a contar! Tenho o meu armário com imensa comida (a que trouxera de casa e a comprada aqui), quarto arrumadinho (vamos lá ver até quando vai durar) e ando a conhecer muitas pessoas. Para variar são todas incríveis e fazem-me sentir a formiga mais pequena do universo. Já tive conversas muito boas e parece que nestes três dias já aprendi para uma vida! Os que vivem comigo são muito humildes, muitos atentos aos outros (sempre a perguntarem se estou bem, se preciso de alguma coisa, oferecem-se para fazer tarefas por mim, etc.) e de uma piedade invejável.

Coisas engraçadas:

  • Lembram-se de me queixar de não haver café? Abriu DENTRO da BMS um coffee shop com café ótimo e com uma esplanada! Melhor ainda, serve para empregar rapazes e raparigas indianos com dificuldades. A ideia é tirá-los da rua, ensinar-lhes inglês e explicar como se gere um pequeno negócio (bem como fazer contas, atender pessoas, etc.). Muito bom! Conheço três 'funcionários': a Soma, o Suku e o Vicky (não faço ideia se os nomes se escrevem assim). São super simpáticos e tenho falado com eles para perceber como é a vida cá e tal...estou a tentar que um deles me convide para ir jantar lá a casa;
  • Há dois anos havia sem abrigo com quem eu 'convivia' mais (vou procurar nas minhas fotografias para ver se o encontro) e qual o meu espanto ao encontrá-lo a trabalhar na BMS! Continua sem abrigo e a viver à porta da BMS, mas agora é um dos funcionários da limpeza. Está com melhor aspeto, barba feita...é bom ver que algumas coisas vão mudando aos poucos;
  • O stand da Porsche é agora o stand da Skoda;
  • O supermercado MORE está com muito mais coisas! E ri-me ao comprar uma manga por 10 cêntimos enquanto que uma maçã me custou 3,9€ (claro que deixei a maçã para trás);
  • O tempo já está muito melhor! THANK GOD!
  • Estou feliz por ver que já sou um pouco indiana. Quando cheguei enchi uma garrafa de água da torneira. Bebi feliz da vida à frente dos que vivem comigo. Ficaram parvos a olhar para mim...de repente percebi! BURRA! Acabei de beber água da torneira, ou seja, vou esperar sentadinha pelas consequências e vou assumir que não me vou mexer nos próximos dias. Não aconteceu nada! Estou ótima! Não vou repetir a brincadeira, mas fico feliz por saber que aguentei a água indiana ahah

      Não tenho muito para contar porque na realidade ainda não fiz nada ou fiz muito pouco. Estou muito feliz por estar aqui! Sinto-me em casa e parece que nunca fui embora. Vou agora começar o trabalho à séria, por isso espero que na próxima semana o post seja mais interessante. Ah e tenho andado sem internet porque houve uma thunderstorm que levou tudo ao ar...agora só tenho internet no Raj's (lembram-se do Raj's? Abriu um novo à porta da Motherhouse. TÃO BOM!). Estou neste momento a escrever no café com o famoso Raj ao lado!

      Até lá, vou tentando lembrar-me de todos.

Um beijinho,

Rita

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