Gratias tibi, Deus, gratias tibi!

22-12-2018

      Habitua-te a elevar o coração a Deus em ação de graças, muitas vezes ao dia. - Porque te dá isto e aquilo. - Porque te desprezaram. - Porque não tens o que precisas, ou porque o tens.

Porque fez tão formosa a sua Mãe, que é também tua Mãe. - Porque criou o Sol e a Lua e este animal e aquela planta. - Porque fez aquele homem eloqüente e a ti te fez difícil de palavra...
Dá-Lhe graças por tudo, porque tudo é bom.


      The city of joy. É este o nome que dão a Calcutá. Inicialmente não percebia como, com tanto lixo, barulho, pessoas...mas no meio deste caos é possível encontrar a máxima serenidade. É a cidade da alegria! 

      Foi a 13 de setembro de 2016 que aterrei pela primeira vez naquela onda de calor e de humidade. Não sabia o que estava ali a fazer e o medo imperava o meu interior. Entrei em Calcutá a chorar e saí a chorar ainda mais (julgo que o mesmo acontece a todos os que lá vão). Voltei a 18 de junho de 2018 e quando regressei a Portugal pensei em não mais voltar...mas há ali qualquer coisa que torna CCU o melhor sítio do mundo! 

      O Menino Jesus está quase a nascer. Olho para o presépio e faço revista do ano que passou. Tanto para agradecer! Faço um esforço mental para agradecer coisas concretas e, para tal, utilizo o alfabeto. Imediatamente surge Calcutá! A imaginação permite transportar-me até lá e pensar nas sisters, em Shanti Dan, nos voluntários. A quantidade de graças que recebi em tão pouco tempo! Desengane-se quem acha que se vai para Calcutá fazer voluntariado. O trabalho que se faz é tão simples e ordinário que estarmos ou não, é quase indiferente. Vamos para lá falar com Deus, perceber o que quer de nós. CCU tem a 'coisa' excelente de conseguir que nos esqueçamos de nós próprios. É, de facto, fantástico pensar que durante dois meses andamos quase sempre sem telefone, computador, televisão...cumprimos um horário fiel e um tanto exigente de Santa Missa, Adoração, etc. e estamos grande parte do nosso dia centrados em pessoas que estão doentes ou a precisar de cuidados básicos...e, somos felicíssimos!

      Quando cheguei a PT disse a toda a gente que pensava em não voltar mais. Não sei quem quero enganar, mas não há um único dia em que não pense naquele sítio, naquelas pessoas... no fundo, naquela pessoa que eu era: alguém totalmente entregue (quanto me era possível) a Deus e aos outros. E não é isto que nos é pedido diariamente nos sítios onde estamos? 

      A questão para mim é: como trazê-lo para Portugal? Começar o dia oferecendo-o a Deus...ler o Evangelho e meditá-lo...falar com Deus antes do dia começar para perceber onde O vou encontrar...combinar com Ele quem é que vou servir nesse dia...arranjar espaço para a Santa Missa e para o terço. O Porto não é tão diferente de Calcutá quando me esforço por ver Jesus nas pessoas com quem me cruzo ao longo do dia...da mesma forma como me esforçava por vê-Lo naqueles rostos indianos da Maroti, da Asheprilia ou da Asha.

      O mais importante de CCU foi aperceber-me da minha insignificância e, sobretudo, aperceber-me do quanto me foi dado...não por mérito meu, mas dado gratuitamente, porque Ele assim quis. E isto dá que pensar! 

      Jesus está quase a nascer. Façamos como Ele, voltemos a ser crianças e a maravilharmo-nos com o Menino, pequenino no presépio. Contemplemo-Lo e agradeçamos tudo quanto nos foi dado neste ano. 


Pela extrema pobreza em que viveram o paizinho e a mãezinha, pelo pão da amargura e da fadiga, pela ruína do moinho, pelas ovelhas sarnentas...obrigado meu Deus! 
Pela boca a mais para alimentar que eu já era, pelas crianças a que se acudiu e pelas ovelhas guardadas, obrigado! Dou-Te graças, meu Deus, pelo procurador, pelo comissário, pelos polícias e pelas duras palavras do padre Peyramable! 
Não saberei agradecer-te senão no Paraíso, Virgem Maria, pelos dias em que vieste e pelos outros em que não vieste! Pela bofetada da senhora Pailhasson, pela troça e pelas ofensas, por aqueles que me tinham por louca ou mentirosa e pelos que me julgavam ambiciosa...obrigado, minha Mãe!
Pela ortografia que nunca aprendi, pela má memoria que sempre tive, pela minha ignorância e pela minha patetice, obrigado! Agradeço-te, porque se tivesse existido na terra uma rapariga mais ignorante e mais parva, Tu a terias escolhido... 
Pela minha mãe, que morreu longe de mim, pela dor que senti quando o meu pai, em vez de abraçar a sua pequena Bernardette, me chamou 'Irmã Marie-Bernard', obrigado Jesus! Agradeço-te por teres enchido de amargura este coração demasiado sensível! 
Pela madre Josefina, que disse que não sirvo para nada, obrigado! Pelo desprezo da madre mestra, pela sua dura voz, severidade e ironia e pelo pão da humilhação, obrigada! Graças por ter sido como sou, e de a Madre Maria Teresa ter podido dizer de mim "Não há nenhuma como tu".
Obrigado por ter sido tão privilegiada na censura dos meus defeitos, de modo que as outras irmãs tenham podido dizer: "Que sorte eu não ser a Bernadette!". Obrigado por ter sido a Bernadette, aquela que ameaçavam de prisão, por te ter visto, Virgem Sanrissima..., por ter sido essa Bernadette tão insignificante e vulgar que, ao verem-me, as pessoas me diziam: "Ela é isto!", a Bernadette que as pessoas olhavam como a um animal raro!
Por este pobre corpo de meter dó, por esta doença que queima como fogo, pela minha carne apodrecida, os meus ossos cariados, suores e febre, pelas terríveis dores que sinto...obrigado, meu Deus! 
E, por esta alma que me deste, pelo deserto das securas interiores, pelas Tuas noites e pelos Teus fulgores; os Teus silêncios e os Teus raios, por tudo, por Ti ausente ou presente, obrigado, Jesus! (Santa Bernadette)


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