Faz-te pequeno!

"Meu amigo: descobri-te uma ponta do meu segredo. A ti, com a ajuda de Deus, compete descobrir o resto. Tem ânimo. Sê fiel. Faz-te pequeno. O Senhor esconde-se dos soberbos e manifesta os tesouros da Sua graça aos humildes. Não temas se, ao discorrer por tua conta, se te escapam afetos e palavras audazes e pueris. Jesus quer isso mesmo. Maria anima-te. Se rezares assim o Rosário, aprenderás a fazer boa oração."
Querida família e amigos, o tempo começa a chegar ao fim e, não tarda, estarei em Portugal. Hoje quero falar-vos do Edward, um indiano que fazia os terços para a madre Teresa. Aliás, faz os terços para as MC há 40 anos e desde há 13 anos que também vende - alguns - aos voluntários. Armei-me em jornalista e fiz-lhe imensas perguntas! Quando cheguei a Calcutá fui logo fazer a minha pequena encomenda de 3 três terços e prometi-lhe que o ajudava a fazer. Não se pode pedir muito mais, pois cada terço demora quatro horas e meia a fazer. Sim, 4h30! Agora estou médio pro (ver pics) e dedico-me a fazer a base (59 contas envolvidas em arame, num processo moroso) e o Edward faz a parte difícil de reforçar com outro arame, dividir por dezenas e acrescentar a cruz (mais a parte anterior a tudo isto: recolher sementes de girassol do campo, envernizá-las, furar e colocar em arame). Longo processo! Conheceu a madre Teresa e disse que era encantadora, mas que às vezes se chateava. Isto acontecia quando as pessoas queriam muita conversa na Motherhouse, pois via como uma perda de tempo em oração e trabalho. Perguntei-lhe se rezava enquanto fazia e respondeu-me que não porque não se queria distrair (percebo-o! Requer atenção para fazer bem as dobras no arame ahah), mas disse que oferecia o trabalho no início e que rezava uma oração no fim. Hoje em dia, já há mais pessoas no mundo a trabalhar com as MC que sabem fazer os terços, por isso tem menos trabalho. Ainda assim, os pedidos são muitos (não quer mais encomendas e, por esta razão, a sua loja parece estar sempre fechada) e só faz 4 ou 5 terços por dia. Tenho a dizer que fazer estes terços é uma trabalheira e que me dá um gozo enorme rezá-los no fim, pois sei o amor que está colocado ali!
Falando da importância de rezar o terço... 'Converti-me' ao terço quando fui a Roma em 2011 e vi a Capela Sistina. Na representação do Céu, Inferno e Purgatório, estão almas a serem salvas com o terço (ver pic) e na altura pensei bastante nisso. Além disso, como boa portuguesa, o pedido de Nossa Senhora de Fátima também pesa: "rezar o terço todos os dias". As ruas de Calcutá estão enfeitadas com Ave Marias rezadas pela Missionárias da Caridade. Sempre que me cruzo com as sisters na rua, estão a rezar o terço...na Adoração, terço...no túmulo, terço... Porque rezam o terço? Porque Nossa Senhora pediu, porque Ela quer, porque gosta (bendito, professor M ahah)! Ajuda-me recordar estes escritos:
"Estas linhas não se escrevem para mulherzinhas. Escrevem-se para homens, bem barbados e bem... homens, que elevaram alguma vez, sem dúvida, o coração a Deus, gritando-Lhe com o Salmista: Notam fac mihi viam, in qua ambulem; quia ad te levavi animam meam. - Dá-me a conhecer o caminho que hei-de seguir, pois a Ti levantei a minha alma. (Sl. CXLII, 8). Hei-de revelar, a esses homens, um segredo que muito bem pode ser o começo do caminho por onde Cristo quer que sigam. Meu amigo: se tens desejos de ser grande, faz-te pequeno. Para ser pequeno, é preciso crer como crêem as crianças, amar como amam as crianças, abandonar-se como se abandonam as crianças..., rezar como rezam as crianças. Tudo isto é necessário, para pôr em prática o que te vou descobrir nestas linhas: O princípio do caminho, que tem por fim a completa loucura por Jesus, é um confiado amor a Maria Santíssima.- Queres amar a Virgem? - Pois então conversa com Ela! - Como? - Rezando bem o Rosário de Nossa Senhora. Mas, no Rosário... dizemos sempre o mesmo! - Sempre o mesmo? E não dizem sempre a mesma coisa os que se amam?... Se há monotonia no teu Rosário, não será porque, em vez de pronunciares palavras, como homem, emites sons, como animal, estando o teu pensamento muito longe de Deus? - Além disso, repara: antes de cada dezena, indica-se o mistério a contemplar - Tu... já alguma vez contemplaste esses mistérios? Faz-te pequeno. Vem. comigo, e viveremos (este é o nervo da minha confidência) a vida de Jesus, de Maria e de José. Todos os dias Lhes havemos de prestar um novo serviço. Ouviremos as Suas conversas de família. Veremos crescer o Messias. Admiraremos os Seus trinta amos de obscuridade... Assistiremos à Sua Paixão e Morte... Pasmaremos ante a glória da Sua Ressurreição... Numa palavra: contemplaremos, loucos de Amor (não maior amor que o Amor), todos e cada um dos instantes de Cristo Jesus.
Esta semana foi ótima, claro, mas a saída de alguns voluntários torna tudo agridoce. Ainda estou a recuperar da 'saída' dos americanos (FOCUS), depois as mexicanas Gabi e María...agora a María e o Nacho foram embora (mi familia de Calcuta!). Muito difícil! Os dias continuam mais ou menos iguais. Não sei se contei, mas tenho a sorte de estar a fazer algum trabalho 'interno' para as sisters (tratar dos salários das mashis - as sisters não funcionam com computadores, é tudo à mão e vejo-me grega para passar para o Excel e ir ao banco -, atualizar os ficheiros das residentes, fazer impressões, etc.), o que me permite ter algumas conversas mesmo interessantes com elas. Contam histórias de madre Teresa, das primeiras missionárias, das lutas que tiveram, etc. Peço-vos que se lembrem nestes dias das Missionárias da Caridade nas vossas orações, se faz favor! Thank you!
Tive a sorte de conhecer uma zona de Calcutá através de uma indiana, a Soma. Trabalha no café da BMS, tem 19 anos e vive em Jadavpur. Combinámos ir com ela tratar de uns assuntos no sábado de manhã. Como não temos telemóveis, combinámos à antiga 'às 10h no mercado de Bijoygarh'. Depois de andarmos perdidas um bom bocado, a Inês, a Clarinha e eu lá conseguimos pedir a um indiano para fazer uma chamada e encontrámos a Soma. Mostrou-nos a sua casa e contou-nos a sua história. Foi uma manhã diferente, entre cabeleireiros, mercados com peixe (ver pics) e boas conversas.
A Clarinha vai ao médico
A pobre da Clarinha chegou a Calcutá numa quarta...quinta foi ao Jardim Botânico, sexta começou a trabalhar em Khaligat, sábado passou o dia connosco e no domingo acordou com a cara inchadíssima (ver pic. E sim, pedi autorização). Foi à Motherhouse pedir opinião das sisters e a sister Mercy deu-lhe uma pomada e uns remédios. Infelizmente, piorou na segunda. Começaram a aparecer umas borbulhas na pele e continuava inchada. As sisters disseram que podia ser sarna, pelo que decidimos ir ao hospital. Fomos a uma clínica privada - Belle Vue Clinic -, repito, privada. Fomos para as urgências e daí levaram-nos para uma cave! Literalmente! 45 minutos depois, estávamos a ser recebidas num consultório que devia ter 4m2. O médico pega numa lanterna normalíssima, olha para a cara da Clarinha, faz três perguntas - idade, país, se tinha comido alguma coisa diferente (Hello?! Estamos na Índia!) - e receita uma pomada. Prontíssimas para sair e...'Excuse me, that will be 1000 rupees'. Ahahah! Não há qualquer tipo de recibo, papel, o que seja. Apenas um médico a exigir 1000 rupias, que nenhuma tinha, o que implicou uma escolta ao banco com um dos funcionários do hospital. Fomos a pé com ele, pagámos no escuro da noite, no meio da rua e fomos embora. Clínica privada! Tão bom! A verdade é que agora a Clarinha está ótima, por isso ele devia saber alguma coisa.
Coisas pequenas:
- Fomos ao Hard Rock! Primeiro a notar: os funcionários têm nomes
americanos....porque sim! Comecei a reparar 'Elliot', 'Sam'...perguntei e não são
os nomes verdadeiros deles. Segundo, como qualquer espaço comercial indiano,
existem demasiados empregados. Contei 16 só no meu andar. Não sei o que estão
lá a fazer, para além de estarem sempre em cima de nós a verificar se
precisamos de alguma coisa ('tão queridos', pensam uns...ora, aqui a má pessoa já
não pode com indianos a quererem ser prestáveis!). Foi muito divertido! Comi um
BIFE de frango, claro, grelhado e uma
CERVEJA! Nem imaginam a minha felicidade. Já para não falar da música, que
estava altamente!
- A Inês, a Clarinha e eu fizemos hena (ver pic) na Gita, como da
outra vez;
- No dia 16 de Julho, dia de Nossa Senhora do Carmo, fomos ao
Carmelo. Rezei pelos que me lembrei!
- Encontrámos uma gelataria do género da Davvero. Os gelados são
ótimos, recomendo!
- O sorriso continua a ser a maior mortificação! Zé Luís, passo a vida a lembrar-me de si!
'Let us love one another as Jesus loves each one of us. And where does this love begin? In our own home. How does it begin? By praying together' (Mother Teresa)