Deo Gratias!

01-08-2018

      Poder estar aqui é uma graça e um luxo - e, de certa forma, um capricho. São tantos e tantos os nomes que tenho para agradecer. Calcutá torna-se Calcutá pelas pessoas que conhecemos. Uns são exemplo pela sua relação com Deus, outros, pelas histórias de vida que contam e pelo exemplo que são no seu país, muitos, pelas lutas que têm, pela alegria com que trabalham e pela forma como lidam com as 'dificuldades' em CCU. Da mesma forma que a família é uma escola de virtudes, a família de CCU é uma montra de virtudes, um museu.

      Há uns anos atrás comecei a agradecer 'coisas da vida' com o alfabeto. Tudo o que tenho foi-me dado, sem eu merecer o que seja...a vida, a família...por isso faz mais do que sentido agradecer. Parece-me que hoje em dia nos queixamos demasiado, nunca estamos satisfeitos (normal, pois Ele é o único que poderá saciar-nos totalmente) e não apreciamos nem agradecemos as coisas que temos. Como tal, há uns anos, depois de ter lido uma oração escrita por Santa Bernadette, comecei a agradecer a minha vida com o alfabeto (algo que recomendo a todos! Garanto que quando chegarem ao Z vão estar felicíssimos pelo quanto têm na vida).

      Só tenho a agradecer-Lhe CCU. A Alegria com que a Inês caminhava pelo nojo daquelas ruas sempre a procurar o bom e o bonito que nos rodeava, o Bom humor da Sister Anne Luce por não saber mexer no computador e rir-se de si própria, a Chuva que nos fazia tirar as máscaras que carregamos diariamente e o Calor que relembrava importância do sacrifício e do oferecimento do trabalho por pessoas e intenções concretas, as 'Doenças' que fui tendo, pela importância que tiveram, a Ementa ao nosso dispor, CCU, um paraíso gastronómico, o Focus que foi um museu de futuros santos, a Guria que vivia em Shanti Dan e que estava SEMPRE a sorrir mesmo estando numa cadeira de rodas e com dores, a Homilia do padre Jorge que foi um (re)despertar, as Intenções que me foram pedindo ao longo destes dias que mostraram a humildade das pessoas e a simplicidade dos seus corações, os Kilos de roupa que lavei em casa e em Shanti Dan, as Lições, chapadas de humildade que recebi do S e do J, os Mosquitos, Melgas e outras variantes que chatearam várias vezes, entre picadas, inchaços e barulhos, os Odor, a Piedade com que as sisters se prostravam perante Jesus sacramentado, o exemplo que davam e a Paciência para nos aturar, todas as Queixas que fiz ao longo destes dias, os Raspanetes da Sister , as Sisters que conheci, com quem falei, pelo cuidado que tinham com cada pessoa e pelo exemplo de Simplicidade que foram para mim, pelo Túmulo disponível a 5minutos de casa, pelas vezes que recorri a Santa Teresa, pela Unidade da Igreja e a possibilidade de ter acesso aos sacramentos tão facilmente, pelas Vezes em que fui preguiçosa e não me apeteceu trabalhar, pelos 'Xeiros' (é sempre difícil chegar ao X e não agradecer a minha família), odores e pelas vezes em que quase vomitei pelos cheiros que senti, pelo Zoo que não visitei!

      Um exemplo muito pobre e muito pouco concreto - pois não tenho assim tanta vontade (nem à vontade) de expor a minha oração - do que é agradecer com o alfabeto. Vamo-nos apercebendo de coisas pequenas e coisas grandes, pormenores, acontecimentos menos bons...e temos tanto para agradecer! É impossível explicar a grande graça que foi Calcutá. Preciso de ganhar distância temporal para me aperceber do quanto me foi dado nestes dias.

      Agora partimos para uma viagem! Uma semana de passeio pela Índia e depois regressamos à vida real. A Inês lá fica, sortuda! Confesso que já sinto falta de CARNE...se não fosse isso, ficaria aqui (brincadeirinhaaa). Relembro o primeiro post: we come here with hearts to love and hands to serve. É isso que se faz em CCU e por isso nos faz tão bem e nos 'sentimos' tão bem, pois este esquecimento de nós próprios faz-nos estar atentos ao outro e, portanto, servir a Deus...para isso fomos chamados. 

      Peço desculpa por ser um post meio à pressa, mas em breve darei notícias! (deixo também a oração de Santa Bernadette).

Grande beijinho!

Pela extrema pobreza em que viveram o paizinho e a mãezinha, pelo pão da amargura e da fadiga, pela ruína do moinho, pelas ovelhas sarnentas...obrigado meu Deus! 
Pela boca a mais para alimentar que eu já era, pelas crianças a que se acudiu e pelas ovelhas guardadas, obrigado! Dou-Te graças, meu Deus, pelo procurador, pelo comissário, pelos polícias e pelas duras palavras do padre Peyramable! 
Não saberei agradecer-Te senão no Paraíso, Virgem Maria, pelos dias em que vieste e pelos outros em que não vieste! Pela bofetada da senhora Pailhasson, pela troça e pelas ofensas, por aqueles que me tinham por louca ou mentirosa e pelos que me julgavam ambiciosa...obrigado, minha Mãe!
Pela ortografia que nunca aprendi, pela má memoria que sempre tive, pela minha ignorância e pela minha patetice, obrigado! Agradeço-Te, porque se tivesse existido na terra uma rapariga mais ignorante e mais parva, Tu a terias escolhido... 
Pela minha mãe, que morreu longe de mim, pela dor que senti quando o meu pai, em vez de abraçar a sua pequena Bernardette, me chamou 'Irmã Marie-Bernard', obrigado Jesus! Agradeço-Te por teres enchido de amargura este coração demasiado sensível! 
Pela madre Josefina, que disse que não sirvo para nada, obrigado! Pelo desprezo da madre mestra, pela sua dura voz, severidade e ironia e pelo pão da humilhação, obrigada! Graças por ter sido como sou, e de a Madre Maria Teresa ter podido dizer de mim "Não há nenhuma como tu".
Obrigado por ter sido tão privilegiada na censura dos meus defeitos, de modo que as outras irmãs tenham podido dizer: "Que sorte eu não ser a Bernadette!". Obrigado por ter sido a Bernadette, aquela que ameaçavam de prisão, por te ter visto, Virgem Santíssima..., por ter sido essa Bernadette tão insignificante e vulgar que, ao verem-me, as pessoas me diziam: "Ela é isto!", a Bernadette que as pessoas olhavam como a um animal raro!
Por este pobre corpo de meter dó, por esta doença que queima como fogo, pela minha carne apodrecida, os meus ossos cariados, suores e febre, pelas terríveis dores que sinto...obrigado, meu Deus! 
E, por esta alma que me deste, pelo deserto das securas interiores, pelas Tuas noites e pelos Teus fulgores; os Teus silêncios e os Teus raios, por tudo, por Ti ausente ou presente, obrigado, Jesus!

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