Abre o teu coração!

O que importa, pois não é a consecução ou aumento dos bens exteriores, mas sim, o seu desprezo e o desapego radical do coração. E isto entende-se tanto do dinheiro e das riquezas, como da ambição das honras e do desejo de vãos louvores: tudo isso passa com o mundo. Pouco defende o lugar, se faltar o fervor de espírito: nem durará muito tempo a paz, que se procurou exteriormente, se lhe faltar o verdadeiro fundamento da disposição do coração, isto é, se não estiveres muito unido a mim; podes mudar de lugar, mas não tornar-te melhor.
Aos Domingos há sempre missa em espanhol às 16h, por isso não temos de acordar cedíssimo para ir às 6h. Hoje lá estávamos junto do túmulo de Madre Teresa. Sacerdote novo, espanhol, um grande grupo de espanhóis e aqui as tugas forçadas a estar na primeira fila.
Sei que escrevi há dois dias, mas há coisas que 'merecem' um só post e não queria escrever no mesmo post de despedida de Calcutá. Venho contar a homilia. O padre Jorge contou uma história que passo a recontar:
Estava há uns anos em Calcutá quando um indiano se dirige a ele no meio da rua e pergunta:
- Sabe como caçamos macacos na Índia?
- Não - responde o sacerdote, sem vontade nenhuma de saber mais informações dos macacos.
- Vou explicar-lhe: pegamos numa caixa e pomos frutos secos, nozes...e abrimos um buraco justamente do tamanho da mão o macaco. O macaco vê as nozes, põe a mão no buraco, mas apercebe-se que não consegue voltar a tirar a mão da caixa. Tem de largar as nozes se quer tirar a mão. Durante este tempo conseguimos caçá-lo.
Nós somos como os macacos. Estamos tão agarradinhos às nossas coisinhas, que somos incapazes de as largar para termos a verdadeira Vida. E que coisas são essas? Pois cada um terá que pensar e rezar...poderá ser o trabalho, uma pessoa, um bem, um pecado, o dinheiro, o amo próprio, uma amizade, ambições de grandeza...tanta coisa! Se não tivermos estes apegos, conseguiremos esvaziar-nos de tudo o que nos afasta dEle e seremos preenchidos unicamente por Ele. ABRE O TEU CORAÇÃO! Só assim seremos verdadeiramente livres e capazes de amar. Para isto temos de rezar, de Lhe falar, de Lhe contar as nossas coisas e de sermos mesmo sinceros com nós mesmos.
'O que é que Tu queres de mim, Senhor? Estou aqui para Ti' - dá medo fazer esta pergunta e é preciso muita coragem...mas, no fundo, estamos aqui na Terra a tentar alcançar o Céu ou a tentar alcançar o cúmulo do nosso egoísmo e dos nossos pequenos ideais?
Queria contar esta homilia porque acho que, de alguma maneira, todos somos uns macacos, identificamo-nos com estas palavras e podemos pensar naquilo que temos de largar.
'Filho, é preciso que dês tudo para possuíres tudo, e que não reserves nada para ti mesmo. Sabe que o amor de ti mesmo é mais nocivo do que tudo quanto há no mundo. Conforme for o amor e o afeto que tiveres às coisas, assim te sentirás mais ou menos apegado a elas. Se o teu amor for puro, simples e bem ordenado, não serás escravo das coisas do mundo. Não cobices, o que não é lícito possuir. Não queiras ter, o que te pode embaraçar e roubar a liberdade interior. É para admirar, que não te entregues a mim de todo o coração, com tudo o que podes possuir e desejar.
Porque te consomes com vãs tristezas? Porque te cansas com cuidados supérfluos? Conforma-te com a minha vontade, e não sofrerás dano algum. Se procuras isto ou aquilo, e se ambicionas estar aqui ou ali, para servires melhor os teus interesses e fantasias, nunca terás descanso, nem estarás livres de cuidados; porque em todas as coisas se encontrará algum defeito e em toda a parte haverá adversidades.
O que importa, pois não é a consecução ou aumento dos bens exteriores, mas sim, o seu desprezo e o desapego radical do coração. E isto entende-se tanto do dinheiro e das riquezas, como da ambição das honras e do desejo de vãos louvores: tudo isso passa com o mundo. Pouco defende o lugar, se faltar o fervor de espírito: nem durará muito tempo a paz, que se procurou exteriormente, se lhe faltar o verdadeiro fundamento da disposição do coração, isto é, se não estiveres muito unido a mim; podes mudar de lugar, mas não tornar-te melhor. Porque cedendo à primeira ocasião que aparecer, encontrarás os mesmos inconvenientes de que fugiste e piores ainda'